Foi numa conversa entre amigos que a barragem do Azibo veio à baila. A propósito do terrível desastre que acontecera no Brasil, estado de Minas Gerais, quando a barragem de Brumadinho colapsou – acidente só explicável pela incúria e imperdoável descaso dos responsáveis pela manutenção e fiscalização da barragem – ficámos a saber que em Portugal, concretamente no concelho transmontano de Macedo de Cavaleiros, existe um equipamento semelhante, ou seja, uma barragem de “terra batida”. Evidentemente, a curiosidade disparou e, na primeira oportunidade, lá fomos ver a dita que, diga-se, é uma espantosa obra de engenharia, digna de ser visitada. Para começar, o Azibo é um rio português, afluente do Sabor, por sua vez afluente do Douro. Do cimo da barragem, que liga as aldeias de Vale da Porca e Salselas, avistam-se dois enormes taludes: o de jusante totalmente coberto de vegetação, ripícola e até cerejeiras bravas; o de montante, banhado pela albufeira, é um aglomerado de pedras e terra, e só no coroamento é que abunda a vegetação. Por conseguinte, andando sobre a barragem há plantas a roçar o caminho, amoras selvagens a mato, e muros ou paredes de betão só no canto onde se vêem as comportas. Espectacular! A albufeira é um encanto! Vastíssima, cheia de curvas e recantos, duas praias fluviais agradabilíssimas, relvadas e bem ajaezadas, e uma ilhota a que os locais chamam do Fidalgo, vá lá saber-se porquê. A envolvente profusamente
arborizada – onde pontoam carvalhos e sobreiros; eucaliptos, ou mesmo pinheiros, nem vê-los… -, de onde irrompem curiosas formações basálticas, é de uma beleza ao mesmo tempo singela e impactante: o compacto verde das margens recortado no azul do céu limpo reflete-se no azul esverdeado do espelho d’água; água que apenas se agita, ondulando brevemente num curto canal que afunila as margens. O silêncio é quase sagrado, suave a brisa quente, e em surdina o marulhar da folhagem e das águas. E ainda tivemos a oportunidade de fazer um passeio de barco na albufeira – barco movido a energia solar, única modalidade permitida -, espreitar os cantos e os escaninhos, observar o voo isolado planado de uma ou outra águia, pasmar diante dos já citados afloramentos rochosos, de formas caprichosas, sempre na companhia do magistral silêncio reinante. Em suma, e sem surpresa após a visita, merece vénia a Paisagem Protegida da Albufeira do Azibo. Supimpa! Uma vez na zona, não era de escapar uma ida à aldeia de Santa Combinha, bem como a Podence, terra dos famosos Caretos, cuja visita fica mais a dever à Casa do Careto e à oficina de um artesão local do que propriamente ao edificado tradicional, escasso. Já Santa Combinha tem uma graça muito própria: abundam as tradicionais casas de xisto, na maior parte recuperadas, alinhadas na rua principal, muito florida, que leva ao miradouro da terra, e daí a paisagem que a vista alcança justifica plenamente o desvio.
É Trás-os-Montes no seu melhor. E o que ficou dito apenas uma amostra.
Crónicas avulsas
Maria Helena Magalhães
Braga, 11 de Julho 2020
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